segunda-feira, 17 de setembro de 2012


MATEUS ABAIXOU A CABEÇA E CHOROU, CHOROU MUITO.

 

Vamos chamar o protagonista desta história de Mateus. Na época em que seus pais o trouxeram ele estava com 11 anos, na 5ª série do Ensino Fundamental, estudando numa das melhores escolas particulares da cidade onde eles residiam. Uma família de classe média, com um bom poder aquisitivo, mas com baixo nível de escolaridade.  Filho único, a preocupação dos pais eram suas notas baixas.
Ele apresentava um estranho cacoete, todas as respostas que ele dava, respondia de forma afirmativa e negativa ao mesmo tempo. Se respondesse sim com a voz, com a cabeça ele respondia não. Ele tinha uma habilidade muito grande para dar estas respostas. Mesmo numa sequência rápida de perguntas ele respondia sempre desta maneira. Com este comportamento ele deixava os adultos intrigados.
O desenho que fez de sua família foi igualmente intrigante, do qual não consegui extrair nenhuma informação significativa. Trabalhamos o raciocínio linguístico e não apresentou nenhum problema, sua leitura, escrita, interpretação e produção de texto estavam dentro do normal para sua idade. Passamos para o raciocínio lógico matemático, neste a sua capacidade foi ainda maior, tinha uma excelente capacidade para efetuar cálculos mentais.
Sua coordenação motora era muito boa, a psicomotricidade fina, lateralidade, orientação, tudo indicava uma criança com alto potencial para desenvolver-se plenamente.
Assim chegamos ao nosso 7º encontro e tudo que sabíamos era que o Mateus era um menino inteligente e ao mesmo tempo intrigante. Em todas as tentativas ele fugia ou mascarava alguma coisa que o estava incomodando. Neste encontro propus uma brincadeira de perguntas e respostas, as quais ele respondia sistematicamente de forma afirmativa e negativa. No meio da brincadeira, que ele estava adorando, perguntei; você apanha de seus pais? Se eu soubesse com antecedência o que aconteceria após esta pergunta talvez não a tivesse feito. Mateus abaixou a cabeça e chorou, chorou muito, eu nunca havia visto uma criança chorar tanto e com tanto pesar. Os vizinhos, as pessoas que passaram na rua, com certeza ouviram o seu choro. A camiseta que ele usava acabou ficando toda molhada com suas lágrimas. Todas minhas tentativas para acalmá-lo foram infrutíferas. Então sentei ao seu lado, abracei-o e deixei que chorasse. Depois de aproximadamente 30 minutos ele começou a me descrever como o pai batia nele e encerrou dizendo “um dia meu pai vai me pagar todas as surras que ele me deu”.
No encerramento do trabalho com crianças, sempre converso com os pais. Nesta conversa descobri que a única preocupação da mãe era sua aparência física e sua necessidade em ser uma mulher sensual para não perder o marido. Sobre seu filho ela não tinha uma opinião formada, já o pai que passava boa parde do dia no trabalho, batia no menino, pois a mãe se queixava de seu comportamento. Após colocar o que havia acontecido no nosso 7º encontro, sugeri aos pais que procurassem ajuda de um Psicólogo pois quem precisava de ajuda eram eles não o menino.




 Basta uma ocorrência na qual a criança se sinta humilhada, para bloquear sua capacidade de aprender e de crescer. 






SUGESTÕES PARA TRABALHAR COM A MARTA


No término do trabalho com a Marta apresentamos à família as seguintes conclusões.
A leitura faz parte de um processo linguístico muito complexo e é uma forma muito abstrata de aprender. Permanecer com falhas na habilidade de ler é um fator que leva muitas pessoas ao fracasso escolar, ao desprazer de estudar, e muitas vezes ao abandono da escola.  O leitor deficiente pode se tornar uma pessoa muito frustrada e infeliz.
Considero importante que se faça uma pesquisa mais apurada no sentido de avaliar as possíveis causas que impedem a Marta de ler com fluência e com constância.
As autoras Mabel Condemarin e Marlys Blomquist em seu livro “Dislexia – manual de leitura corretiva”, relacionam os seguintes itens como causadores de dificuldades independentes da dislexia específica:
-         Incapacidade geral para aprender;
-         Imaturidade na iniciação da aprendizagem da leitura;
-         Alterações no estado sensorial e físico;
-         Problemas emocionais;
-         Carência cultural;
-         Métodos de aprendizagem defeituosos.
Destes, considero importantes pesquisar, no caso da Marta, possíveis alterações sensoriais e físicas.  Uma avaliação médica, por Neurologista especializado em dificuldades de aprendizagem, também deve ser incluída, considerando o fato significativo de outros familiares também apresentarem dificuldades na aprendizagem da leitura. 
Acompanhamento por um Psicólogo, visando amenizar os efeitos negativos do fracasso escolar, já demonstrados pela Marta no que tange a sua autoestima, incluindo-se aí um trabalho no sentido de melhorar a aceitação de um trabalho de recuperação na aprendizagem da leitura, e a própria reprovação, se vier a ocorrer. Outro fato importante a ser considerado quanto às emoções da Marta é o cuidado que se deve ter na sala de aula para evitar que ela seja exposta a situações constrangedoras diante dos colegas, como por exemplo, ser chamada a ler para o grupo. Basta a ocorrência de um fato, o que já pode ter ocorrido, onde a criança se sinta humilhada, exposta, menosprezada ou ridicularizada, para bloquear sua capacidade de aprender e de crescer.
Convêm salientar que, independente da causa que originou a deficiência de leitura na Marta, julgo-a plenamente capaz de concluir esta aprendizagem, entretanto, se ela receber o mesmo atendimento que recebeu durante o ano passado, independente de ser na 2ª ou na 3ª série, provavelmente não conseguirá acompanhar nem uma nem a outra série, pois a metodologia empregada, que foi boa para todos os demais, não o foi para a Marta. Considero de fundamental importância que ela receba neste ano, um atendimento diferenciado que possibilite desenvolver sua habilidade de ler e escrever, necessitando para isso de um trabalho de complementação da alfabetização, com a utilização de métodos alternativos que explorem as múltiplas possibilidades de exploração sensorial bem como a potencialização dos sentidos.
A Marta necessita de profissionais, que antes de tudo, mantenham um relacionamento baseado na afetividade, para que ela se sinta segura e envolvida.  Ela demonstra ter aversão à leitura e a escrita e cria argumentos para fugir destas atividades, por isto é necessário que o educador crie situações e materiais estimulantes e principalmente, que jamais perca a paciência.
Lori Sostmeyer Polita – Pedagoga


  “Eu conto quantos parabéns tem no meu caderno”

                                   

                                    PARECER DESCRITIVO

Este Parecer Descritivo se refere à menina que chamo de Marta. Na publicação anterior descrevi o seu desenho da escola. Quando trabalhei com ela, estava com 8 anos, cursava a 2ª série do Ensino Fundamental em uma escola particular e apresentava dificuldades de aprendizagem da leitura.
Após conhecer um pouco dos sentimentos da Marta em relação ao universo escolar passei a trabalhar questões relacionadas à linguagem, tanto na escrita quanto na leitura.
A Marta demonstra pleno conhecimento de todas as vogais e consoantes, bem como da metodologia de construção da palavra. Entretanto, quando solicitada a ler, demonstra ter ainda uma deficiência na leitura.
Palavras compostas de sílabas de duas letras, combinando uma consoante e uma vogal, como “parede”, “janela”, “capivara”, lhe são relativamente fáceis.  Suas dificuldades iniciam quando se apresentam palavras compostas de sílabas de três letras. Entretanto, se nestas palavras aparecem sílabas compostas de uma consoante e duas vogais, como “madeira”, “relógio” “rádio”, o índice de acertos ainda é maior se comparado com palavras de sílabas de três letras onde se combinam duas consoantes e uma vogal, como “flor” “vidro” “claro”. Também apresenta dificuldades com o “lh”, “nh”, “ão”, “gue”, “ge”, etc.
Um aspecto interessante a ser observado é que quando se solicita para a Marta soletrar como se escreve uma palavra, o faz de maneira rápida e com um menor índice de erros.  Isto demonstra que compreende o processo, mas apresentando falhas na elaboração de respostas lidas ou escritas.
Igualmente importante é salientar que em alguns momentos a Marta lê e escreve frases inteiras sem cometer erros, mostrando que sua dificuldade também reside em automatizar a habilidade de ler e escrever.
Um aspecto de fundamental importância a ser considerado é a autoestima da Marta, já bastante abalada pelo fracasso escolar.  Quando perguntada do que mais gosta de estudar, procura em seu caderno os cálculos de matemática onde há um “parabéns” escrito pela professora ao lado de um acerto. Comenta: “eu conto quantos parabéns tem no meu caderno” e conclui dizendo baixinho: “eu tenho muito poucos parabéns”. Desta forma, percebe-se que o insucesso na aprendizagem da leitura já lhe deixou marcas.  Quando diz “não quero repetir a série”, nos fala de sua dor em ser castigada por um erro que não cometeu.


Lori Sostmeyer Polita - Pedagoga 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A CRIANÇA, AO DESENHAR, NOS MOSTRA SUAS EMOÇOES

          

                  Hoje escrevo sobre uma menina chamada Marta.  Quando sua mãe a trouxe para mim, ela tinha 8 anos, cursava a 2ª série do Ensino Fundamental em uma escola particular e apresentava dificuldades de aprendizagem da leitura.

         Para compreender o processo de relações da criança com o universo escolar, solicitei a ela que desenhasse a escola. No desenho a criança nos mostra todos os seus sentimentos em relação ao que está desenhando.


 

                                       O DESENHO DA ESCOLA

         Quando solicitei a ela que se desenhasse na escola, respondeu que não sabia desenhar pessoas. Mostrei a ela como eu desenhava pessoas, aí ela se animou e começou a desenhar o que lhe havia sido solicitado. 

         Primeiro desenhou o prédio, fez uma chaminé de onde saía fumaça. Isto representa, no desenho infantil, calor ou afeto que existe dentro da escola.  Depois desenhou a porta de entrada, quadriculou os vidros, detalhando e enfeitando sua escola.  Fez a escadaria e no alto desenhou uma pessoa que ela denominou como sendo a Diretora, (reconhecimento da autoridade dentro da escola). Perguntei como era a Diretora e ela prontamente respondeu que “ela não é brava, é bem legal”.

         A seguir dividiu o prédio ao meio formando os dois pisos, fez as janelas do piso superior onde desenhou suas colegas Marta e Lauri. Pedi que também desenhasse a si, desconversou e não se desenhou. Fez as janelas do térreo dizendo ser a sala dos professores e a seguir desenhou pessoas nas janelas. À medida que ia desenhando falava quem era cada pessoa. A primeira era a Professora Mara, a segunda era a Irma, a terceira era a Antonia de Educação Física e voltou a desenhar a Diretora, agora na janela, referindo-se a ela como a “Lu” e por último desenhou a Professora Sonia da 1ª série.  Voltei a solicitar para que ela se desenhasse e ela abanou a cabeça fazendo que não.

         A seguir começou a desenhar o pátio da escola, fez uma bola, pois “os guris gostam de jogar bola e a Jenifer e a Luiza também”.  Desenhou a Luiza dizendo que “ela sempre vai muito bem arrumada para escola” e reclamou da dificuldade em desenhar os cabelos cacheados dela.

         Desenhou a pracinha e a medida que desenhava ia explicando os detalhes e a utilidade de cada peça. Colou 2 pedaços de papel sobre o desenho, dizendo que eram trilhos por onde as crianças passavam.  Considerando o longo tempo de permanência e o carinho com que detalhou a pracinha, este deve ser para ela o melhor lugar da escola. Depois, com gestos bruscos e rápidos, cobriu tudo com preto. Perguntei se não queria usar outra cor, ao que respondeu que gostava de preto.

         Começou a pintar o prédio de vermelho, e cobriu todas as professoras que havia desenhado nas janelas dizendo que não queria mais ninguém nas janelas. Em seguida pintou a parte de cima usando verde e cobriu também o rosto de suas colegas. Desenhou um grande sol ao lado da escola.

Apesar da insistência para que se desenhasse na escola, ela não se colocou dentro da mesma. A Marta nos mostra em seu desenho que ela não faz parte deste universo, os objetivos aos quais a escola se propõem ainda não a atingiram. À medida que desenhava as pessoas referia-se a elas de forma carinhosa e deixou claro que a escola é um ambiente onde existe “calor” e “afeto”, mas ela não se sente integrada ao que ali se faz. A sua dificuldade em ler de forma eficiente, a faz sentir-se excluída do universo escolar.

Quando cobriu as professoras e as colegas com a pintura, dizendo que não queria mais ninguém ali, deixa claro a sua insatisfação e o seu sentimento de inferioridade com relação aos seus resultados escolares.    


 

Lori Sostmeyer Polita - Pedagoga

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

MARIA, UMA LINDA MENINA, PARAPLÉGICA, COM DISCALCULIA E UM SONHO: SER JORNALISTA


             Quando a família da Maria me procurou, ela cursava a 1ª série do Ensino Médio em uma escola particular, em vias de ser reprovada em Matemática, Física e Química. A Maria nasceu paraplégica.
            A Maria sempre participou e demonstrou muito interesse nas dicas de estudo apresentadas, propondo-se a colocá-las em prática, entretanto sempre deixou claro sua preferência pelo estudo de matérias relacionadas com o raciocínio lingüístico. Em todos nossos encontros falou de sua angústia em não conseguir acompanhar as aulas de Matemática, Física e Química. Diz que no início das aulas consegue concentrar sua atenção na explicação dos professores, mas a medida que o tempo passa e o grau de dificuldade aumenta, não consegue mais se concentrar. Muitas vezes não consegue entender o “vocabulário” que os professores usam. Já as aulas que exigem o raciocínio lingüístico lhe são agradáveis, fáceis de acompanhar.  Fala com entusiasmo sobre o gosto pela História, destacando os períodos que mais a atraem, década de 1950 a 1970. A música, manifestações culturais, revoltas estudantis, luta social, moda, política e a situação sócio-econômica deste período, chamam a sua atenção.
            Na avaliação sensorial observei que a Maria utiliza preferencialmente a audição (54%), em 2º lugar fica a cinestesia (33%) e em 3° lugar a visão (13%). Isto significa que ela tem mais facilidade em construir memória e estudar usando a audição e a cinestesia.
            Na primeira oportunidade em que realizou um exercício de relaxamento e concentração, ela se saiu muito bem, sendo capaz de relatar inúmeras partes do exercício, depois de concluído.  Na 2ª oportunidade, havia movimentação de alunos nos corredores da escola e ela se queixou do barulho, dizendo que a atrapalhava na concentração. Este fato também pode ocorrer na sala de aula, onde a movimentação dos colegas pode desviar sua atenção interferindo na sua capacidade de concentração.
            Após um período inicial de adaptação, visando cativar sua confiança, passei a testar sua capacidade de raciocínio matemático. Demonstrou um elevado grau de dificuldade em processar cálculos mentais que deveriam ser fáceis para ela, considerando seu nível de escolaridade. Esta dificuldade em trabalhar com o pensamento lógico matemático interfere na sua capacidade de aprendizagem de matérias como Física, Química e Matemática.
            Seguem alguns dos cálculos mentais solicitados:
1°) 7 X 7 = 49 (Pensou um pouco e respondeu corretamente)
2°) 9 X 8 = 72 (Pensou, deu uma resposta errada, demonstrou-se nervosa em ter que responder, perguntei quanto é 10 X 8 ? Respondeu 80. Conclui dizendo que 9 X 8 é igual a 80 menos 8. Demorou para responder e finalmente acertou).
3°) 85 – 15 = (Perguntou-me se podia pensar. Pensou um tempo, e perguntou se não fazia mal que demorava a dar a resposta. Fechou os olhos, tentando se concentrar pensou um tempo, mas não conseguiu responder. Perguntei como ela fazia os cálculos, explicou que imagina os números escritos e tenta fazer o cálculo. Expliquei que fracionando o raciocínio ficaria mais fácil. Quanto é 85 menos 5 ? Respondeu 80. E quanto é 80 menos 10 ? Respondeu 70. E quanto é 85 menos 15 ? Respondeu 70. 
4°) 130 – 15 = Sugeri novamente que simplificasse o raciocínio. Demorou um pouco para responder, respondeu errado, mas acabou acertando.
5°) 128 + 12 = Pensou um pouco e deu a resposta certa. Perguntei como havia feito o cálculo. Contou nos dedos.
6°) 1.200 – 195 = Pensou, pensou, não conseguiu responder. Sugeri que tirasse os 1.000 e calculasse 200 – 195, aí respondeu 5. Perguntei novamente quanto é 1.200 – 195? Tive que auxiliar novamente para que chegasse aos 1005. Estes cálculos, que deveriam ser de simples solução, demonstraram ser difíceis para ela. A capacidade de executar o raciocínio lógico matemático, não acompanhou seu desenvolvimento no raciocínio lingüístico, gerando um profundo desprazer em pensar qualquer tipo de cálculo.
            Existe uma grande probabilidade de que não se consiga obter sucesso simplesmente estimulando para que estude e que se esforce para recuperar conteúdos.  A Maria apresenta o que se denomina de “dificuldade de aprendizagem” o que gerou lacunas na aprendizagem da Matemática, que por sua vez interfere na compreensão dos conteúdos desenvolvidos no ensino médio. Considero prioridade que se tente descobrir a origem desta dificuldade. Por outro lado, a Maria não apresenta deficiência mental perceptível no processo ensino/aprendizagem
            A dificuldade de aprendizagem apresentada pela Maria pode ser o que diversos autores denominam discalculia, caracterizada pela dificuldade de aprendizagem da matemática.
            Para tentarmos descobrir as causas da dificuldade de executar raciocínios matemáticos, é importante pesquisar os seguintes aspectos:
- uma avaliação psicológica (sugerimos uma avaliação neuropsicológica);
- uma avaliação neurológica (neurologista especializado em dificuldades de aprendizagem);
- uma avaliação bioquímica (medicina ortomolecular).
            É importante considerar os resultados das três avaliações, para de forma integrada se traçar planos de trabalho para atender as reais necessidades. A Maria já apresenta auto-estima debilitada pela sua condição física, agravada pela dificuldade de aprendizagem e pelas características comportamentais específicas da adolescência. Neste momento, considero mais importante trabalhar este aspecto ao invés de concentrar todos os esforços na recuperação dos conteúdos de Física, Química e Matemática. 
            Uma vez concluídas as avaliações torna-se necessário reavaliar o processo ensino aprendizagem, adequando-o as reais condições, necessidades e potencialidades da Maria. É importante que os adultos que com ela interagem (pais e professores) saibam se adequar a elas, por exemplo: considerar o tempo que a Maria necessita para concretizar a aprendizagem de novos conteúdos.            Sempre que falamos em pessoas com necessidades especiais, salientamos a necessidade de não discriminá-las, o que é totalmente correto, mas considero importante também, sermos capazes de lançar um olhar especial sobre as necessidades e potencialidades diferenciadas destas pessoas. É importante não discriminá-las, mas também é importante não querer enquadrá-las a modelos pré-estabelecidos. Precisamos adequar as nossas exigências e as nossas expectativas para possibilitar a integração efetiva dos portadores de necessidades especiais, destacando mais suas potencialidades do que a ênfase dada às suas dificuldades.
            Trabalhos diferenciados, maior espaço de tempo, aulas de reforço para recuperação de pré-requisitos, são algumas atividades que poderão auxiliar a recuperação e o acompanhamento dos conteúdos pela Maria.  As tradicionais provas realizadas em sala de aula, com tempo limitado, naturalmente causam tensão nervosa que por sua vez impede o aluno de demonstrar a sua real capacidade de desempenho. Avaliar em momentos distintos, com atividades variadas e sem limitação de tempo, pode fornecer ao professor, subsídios mais próximos da realidade quanto à aprendizagem da Maria, sem submetê-la ao estresse da prova.
            No trabalho que desenvolvemos com a Maria, enfocamos outros aspectos importantes para o seu desenvolvimento integral como: Estímulo para “descobrir que sua força interior é ilimitada”; o significado do estudar pelo “prazer de realizar conquistas”; a importância de “treinar a força dos braços”; paulatinamente “construir a sua independência” e seu “projeto de vida”. Estes assuntos sempre a entusiasmavam. Quando nossos diálogos se voltavam às suas dificuldades de aprendizagem, sempre deixou muito claro o seu desprazer em ter que estudar o que não consegue compreender e a tristeza que sente por não conseguir aprender.
            Criar excessivas expectativas e cobranças para alunos que apresentam algum tipo de dificuldade de aprendizagem pode levá-los a profundas crises de auto-estima e até depressão.  
            Concluo manifestando minha opinião sobre o sonho da Maria, ela teria todas as condições para tornar-se uma excelente jornalista, com clareza nas suas opiniões, riqueza de idéias, fluência na fala e na produção de texto, apaixanada por história, entre outros aspectos. Entretanto, para chegar a um curso de formação de jornalistas, ela precisaria aprender a desenvolver o seu raciocínio lógico matemático. Exigências do sistema que estabeleceu um único modelo para todos. 
           
           
 Lori Polita
Pedagoga
           

terça-feira, 17 de julho de 2012

ACREDITAR SEMPRE

Lembrando dos alunos com os quais desenvolvi o curso Aprendendo a Aprender, não posso deixar fora dos meus relatos a história de um menino que vamos chamar de Marquinhos. Quem me procurou foi uma de suas avós quando ele estava com 12 anos cursando a 6ª série do Ensino Fundamental em uma escola particular da cidade onde residiam e, em vias de ser reprovado.
Nosso 1º encontro previsto para ter a duração de 2 horas, uma meia hora para conversar com a avó e o restante do tempo destinado ao trabalho com o menino. Minha previsão de distribuição do tempo não se confirmou, durante 01h30min a avó relatou os problemas que seu neto enfrentava.
Resumindo a história da vida desse menino, seus pais se separaram, cada um iniciou uma nova relação e os dois filhos gerados durante o período em que estavam juntos foram entregues para a avó materna que cuidava, educava e sustentava as duas crianças. O pai não aparecia já fazia alguns anos e a mãe visitava os filhos umas duas vezes por ano e ficava uns dois ou três dias de cada vez.
Após a saída da avó, olhei para o menino encolhido na cadeira, com o rosto tenso e as mãos segurando com força a pasta com o seu material escolar. Falei que eu já tinha uma opinião; “quem tinha problemas eram os seus pais e não ele, e que não deveria carregar os problemas que não eram dele”.  Iniciamos o trabalho previsto no curso Aprendendo a Aprender e concluído o período de duas horas o menino foi para casa.
No outro dia a avó me procurou para saber o que eu tinha feito com o menino, após a nossa aula ele foi para casa e pela 1ª vez fez seus temas e estudou para uma prova. A avó pedia para ele fazer seus temas diariamente e ele jamais a havia atendido.
Expliquei que eu havia dito que quem tinha problemas eram seus pais e não ele, por causa disto sua auto-estima havia melhorado. Durante o desenrolar do nosso trabalho sempre procurei provar a ele a sua capacidade, inteligência, rapidez de raciocínio. Acreditei nele e ele correspondeu a minha expectativa.
Entretanto, a avó não se convenceu com minha explicação. Ela questionou meus familiares querendo saber o que eu fazia para conseguir mudar o comportamento de um adolescente de forma tão rápida. Na verdade, conseguir obter mudanças comportamentais pode ser sim, muito rápido, muito simples, basta acreditar na capacidade do outro, estimular de forma positiva e desafiar até onde ele possa alcançar. Importantíssimo é lembrar que precisamos ser congruentes na nossa fala, jamais conseguiremos obter mudanças se não acreditamos naquilo que falamos. Também devemos ter presente que nossos estudantes não almejam obter péssimos resultados, se isto acontece é porque alguma coisa está errada e o erro pode estar em nós educadores.
Concluindo, o Marquinhos foi aprovado no final daquele ano letivo.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

É POSSÍVEL VENCER AS DIFICULDADES

Hoje, 16/07/2012, volto a escrever, para contar um pouco mais da caminhada de um ex aluno, Henrique Montagner Zauk, atualmente residindo em Genova onde continua a se especializar em gastronomia. O Henrique, juntamente com sua familia, é um exemplo para todos aqueles que tem filhos com alguma dificuldade de aprendizagem. A caminhada do Henrique foi cheia de obstáculos, dificuldades, reprovações, recriminações, hoje com um caminho aberto para ser um profissional bem sucedido, numa área pela qual sempre demonstrou interesse e potencial, mostra que é possível contornar os obstáculos impostos pelo sistema e encaminhar o adolescentes para uma área onde ele possa estudar, trabalhar e se desenvolver profissionalmente. É importante acreditar sempre na capacidade de nossos filhos e alunos.